sexta-feira, 20 de maio de 2016

Uma negociação ou a coleira

Quinta-feira à noite, dia estressante no trabalho, irritada com meu chefe que me fez ficar presa até mais tarde e ainda por cima, esqueci de levar o carregador do meu celular, passei a tarde inteira com ele sem bateria; minhas férias começam na próxima segunda, mas já soube que pode acontecer de não conseguir por conta dessa demanda de última hora. Jogo a bolsa sobre a mesa, começo a tirar minha roupa, chuto um pé de sapato para um canto, o outro fica no meio do caminho, a raiva me cegando, preciso de um banho para relaxar, chego ao banheiro já só de calcinha, arranco ela que fica toda enrolada, entro no chuveiro sento no chão, deixo a água cair sobre meu corpo, vem uma onda de choro, maldito dia.
            Passado algum tempo sentada, levanto pego o sabonete e começo a ensaboar meu corpo, me sinto como se tivesse saído de uma sessão pesada, corpo moído, mas sem o prazer deixado pela sessão, começo a lavar os cabelos. Droga, joguei a bolsa na cadeira não pus o celular para carregar e se meu Dono me ligou? Saio correndo do chuveiro, nem me enrolo na toalha, molho o chão todo, a bolsa ficou na sala, correndo tropeço no par de sapato no meio do caminho, quase caio, xingo, pego a bolsa, onde deixei o carregador? Inferno de dia, caído no sofá lá está ele, boto o celular para carregar, volto correndo para o banheiro, da sala até o banheiro tudo patinhado. Meus olhos ardem por conta do shampoo que escorreu e caiu neles. Inferno.
            Entro novamente no chuveiro que ficou ligado, acabo meu banho nem sinto o prazer que um banho me dá, o toque do sabonete em minha pele, as carícias da água, o prazer de minhas mãos deslizando por meu corpo. Droga, botei o celular para carregar mas não liguei ele, seco o corpo, me enrolo na toalha, corro para a sala ligo o celular, imediatamente o barulho de uma mensagem, seguido por vários outros. Começo a tremer, e se forem do Dono, não atendi, desde que horas estão as mensagens, vejo tremendo, 8 mensagens dele, meu coração quase sai pela boca, nervosa abro a primeira.
1-      Minha menina boa tarde, quero e preciso estar com você essa noite, me mande mensagem de volta que a orientarei, beijos.
2-      Vinte minutos depois é a segunda mensagem. Estou esperando sua mensagem, bj.
3-      Passados mais 40 minutos a terceira mensagem. O que esse seu silêncio representa?
4-      Duas horas depois da primeira mensagem. É acho que vamos precisar conversar seriamente, sabes que seu celular é uma de suas coleiras e a negligenciou.
As lágrimas começam a rolar de meu rosto, vou lendo e respondendo como se ele estivesse me ouvindo, estou justificando que não tive culpa, que aconteceu, que o chefe isso, aquilo, coração apertado, vem a sensação de ter desobedecido, desapontei meu Dono certamente.
5-      Passados mais 30 minutos da quarta mensagem. Vai me fazer esperar muito para responder?
6-      Logo em seguida. Você sabe o que está fazendo, nada vai justificar esse seu comportamento.
7-      E outra logo depois. A não ser que tenha acontecido algum acidente com você, qualquer outra justificativa não será aceita.
8-      Passada mais uma hora da última. Esqueça a noite de hoje. Tenha um bom final de dia.
Estou aos prantos são 20:30, a última mensagem dele foi às 17:00, ele sabe que saio esse horário, sabe que mesmo com trânsito muito ruim levaria  no máximo uma hora e meia então às 18:30 eu já deveria estar em casa e nesse tempo poderia ter visto suas mensagens, começo a digitar freneticamente, erro as letras apago. Parece que estou gaguejando ao escrever, a tolha caí ao chão, continuo a escrever, olho que a cortina está aberta, estou nua para a vizinhança, pego a toalha, me cubro, fecho a cortina, volto a digitar. Dono tive problema no trabalho, celular ficou sem bateria, cheguei estressada esqueci de ligar. Por favor Dono me liga assim que puder. Sua menina. Sento no chão da sala ao lado celular ele vai ver minha mensagem e ligar. Passa algum tempo, olho 5 minutos, ele não ligou, vou mandar nova mensagem, não foram só cinco minutos, levanto vou me trocar, seco os cabelos no caminho para o banheiro piso no chão molhado, o som de mensagem no celular corro desesperada, droga mensagem do grupo do trabalho, nem leio.
Me visto, na verdade jogo um vestido sobre o corpo nu, olho o estado do apartamento, roupa jogada, sapato espalhado sutiã sobre a mesa, começo a recolher ouvido atento ao celular, cadê o outro pé do sapato? Passaram-se 15 minutos, digito, por favor meu Dono me mande uma mensagem, desculpa sua menina.
Acho o pé do sapato sob o sofá, pego o pano de chão começo a limpar onde molhei. Nove horas da noite e nada de mensagem, o telefone fixo também não toca, estômago embrulhado, maldigo mais uma vez o dia, imploro, por favor Dono me liga, me manda mensagem. Sento ao lado do celular, esperando como uma cadela de guarda espero um som que me dê uma alento, que afaste toda a angustia que sinto, o que me faz ficar pior é que esqueci do carregador, esqueci de botar para carregar, esqueci de ligar. Se tivesse lembrado antes, teria mandado mensagem para ele antes, falhei sim, falhei e é isso que mais me angustia. Me liga Dono, me castigue severamente que mereço, sei que errei. Me liga, por favor. Não tenho fome, sentada ao lado do celular fico esperando, Digito outra mensagem. Estou aqui, me responde Dono.
Droga depois que envio é que percebo o quanto fui seca na mensagem, mas sei que ele ainda não leu, não aparece como lido. Mais horas se passam, esgotada adormeço. Acordo com o som de mensagem entrando, pulo do sofá, coração disparado, pego o cel, abro, inferno mensagem da operadora dizendo que minha conta vence..., xingo e fecho o telefone, quase onze horas da noite.
Vou para o quarto, deito sem nem tirar a colcha ou trocar de roupa o celular em minha mão, durmo acordo assustada no meio da noite, um sonho, sonho não um pesadelo. Ouço a voz de meu Dono dizendo. Me devolva a coleira agora! Não quero uma submissa desleixada que não sabe nem cuidar de uma coleira virtual, como vai querer ter essa coleira real? Me pego respondendo para as paredes, não tive culpa Dono, mas me vem a lembrança, eu esqueci, eu tive culpa, tento olhar o celular, as lágrimas embaçam meus olhos, nenhuma ligação, nenhuma mensagem, ele leu minhas mensagens estão lá os dois riscozinhos em azul. São três horas da manhã, não consigo mais dormir o pesadelo me afetou profundamente, em minha cabeça só vejo a imagem dele tomando minha coleira.
Deixo as horas passarem me remoendo, sem pensar coloquei sobre a cama a caixa coberta com tecido, feita pelo Dono para que sejam guardados os nossos objetos de sessão, tiro de dentro o chicote que mais me assusta, o couro trançado me mete medo, abraço-o, quero que Dono me ligue e diga que vai me castigar com ele, que então me perdoa.
O dia amanhece, o mesmo pássaro que tanto gosto de ouvir da minha janela cantando hoje está mudo, o silêncio sepulcral me oprime, nada no celular, o maldito trabalho de última hora me espera, levanto, faço o café a fome me angustia, não comi nada desde o almoço, podia ter tentado vir em casa ao invés de almoçar, mas só vi que ficou sem bateria depois, foi a conversa e a troca de fotos que tive com minha amiga logo antes do almoço que fez gastar o restinho. Vou para o banho, me olho no espelho, estou horrível, tenho olheiras sobre olheiras, não tenho vontade de me arrumar, mas então penso e se ele manda mensagem como vou estar desarrumada? Não posso estar feia para ele. Mas é só uma mensagem, não importa é ele. Vou à gaveta de lingerie escolho o conjunto de calcinha e sutiã da cor que ele gosta, deixo sobre a cama, escolho o vestido, ele já me disse que gosta de me ver de vestido.
Abro o chuveiro, o celular ao lado do box, deixo a toalha ao alcance para secar a mão se ele tocar. Acabo o banho, me sinto melhor, ele vai me ligar, visto a lingerie, sento para fazer a maquiagem, visto meu vestido, pego a bolsa, coloco dois carregadores nela, calço os sapatos, saio de casa, o celular vai não mão se tocar não demoro a pegar. Chego no trabalho, a pilha de  serviço sobre a minha mesa, a primeira coisa que faço é colocar o celular carregando, o dia passa, difícil me concentrar no trabalho, olhar o celular, que só tem recebido chamadas e mensagens idiotas, e a visão do meu pesadelo da noite, passo a mão pelo pescoço, não quero perder minha coleira, no meio da manhã mandei mensagem, ele leu e não respondeu, mandei na hora do almoço, a mesma reação dele, angustiada ao extremo, me mostro firme para meu chefe, me desmancho por dentro. Termino a tarefa, quase 6 horas da tarde.
Dono, estou saindo do trabalho agora, indo direto para casa, esperando sua ligação. Perdoa sua menina perdoa.


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